Foi me dito que a realidade extrapola a imaginação, e, confesso que isso me tocou de alguma sorte, logo eu, que sou toda imaginação, que adoro pensar e escrever histórias, que vejo poesia em toda parte, que olho o mundo com olhos encantados e crio a partir dele, com ele, para além dele. Mas a vida fala mais alto diz uma voz em meu interior já faz um tempo, a vida, aqui, não poderia quiçá representar a tal da realidade, essa realidade que extrapola a imaginação?
Talvez sim, não há mesmo como negar
a urgência da vida, do real, do tempo presente, que também é passado e futuro
de forma contínua. Não há como negar o ser, o ser que pretende ser, e assim o é
hoje, amanhã e ontem.
Para conhecer a si e ao mundo é
preciso viver (e também imaginar – insisto, nem tudo é passível de ser vivido, nem tudo é
necessário de ser vivido), mas ainda assim viver é preciso (e, arrisco-me aqui
a contrariar poeticamente um dos meus poetas preferidos, que Pessoa me perdoe),
mas sim, viver é preciso para se conhecer, para se tecer redes de significados
e relações que façam jus a quem somos e a quem queremos ser, e até mesmo para
imaginar é preciso viver o real.
Para criar mundos, é preciso
estar em um mundo, para questionar a realidade, é preciso fazer parte dela,
para propor mudanças e projetos, é preciso viver.
Então sim, sinto-me convencida de
que, de alguma forma, a realidade extrapola a imaginação, e isso não é um
problema necessariamente, pois, apesar de tudo, é tão lindo viver.